


“Quero que vejam nelas a imagem do Redentor”,
assim Madre Antonia ensinava a olhar para a mulher em situação de
prostituição. Mas qual será a relação da mulher que se prostitui
com o Sagrado? Para responder a essa pergunta, Irmã Marilda
prefere primeiro conceituar o significado de Sagrado: “É a
presença de Deus em nós. Nosso corpo é Santuário onde se manifesta
a Sua luz “. Neste contexto, a Irmã esclarece que é impossível
falar em corpos em situação de prostituição sem considerar a força
maior que os sustenta, mantendo viva a chama do desejo de
libertação. “Estes corpos são templos do Sagrado, santuários às
vezes violados, violentados, esquecidos, usados, mas continuam
sendo a morada divina. É Deus quem escolhe onde quer habitar e não
exclui ninguém deste processo, apesar de nossas reflexões
racionais e carregadas de preconceito”, completa.
As experiências vivenciadas a cada dia nos
diferentes Projetos mantidos pela Congregação têm demonstrado que
a relação dessas mulheres com o Transcendente além de ser
profunda, alimenta o sonho de uma vida diferente, apesar de
manifestarem-se em práticas religiosas baseadas na espiritualidade
caseira e devoção popular. “Eu rezo o terço pelo menos três vezes
por semana”, relata uma delas e outra conta que ir a missa todos
os domingos lhe dá forças para enfrentar tudo o que terá que
passar durante a semana em sua vida de prostituição.
“Estes relatos nos surpreendem. Muitas vezes a
gente vai para a missão como aquelas que pretendem levar algo e
saímos de lá como aquelas que receberam algo, porque no fundo é
uma troca”, diz Irmã Marilda. É o Sagrado que se aproxima e faz
morada nos corpos dessas mulheres para restaurar, conferindo força
e possibilitando a elas encontrarem resignação face às mazelas que
a vida prostituída lhes oferece. No centro do coração de Deus, o
que prevalece é a vida, principalmente quando aquelas mulheres
estão machucadas, feridas, destruídas, enfim, reduzidas a nada por
uma sociedade moralista que se vê no direito de julgar e
estabelecer qual o lugar que estes corpos devem ocupar na
sociedade.
Na presença constante de Deus, os corpos em
situação de prostituição sentem a acolhida, a compaixão, a
gratuidade, a ternura, a misericórdia, a escuta, a alegria e o
verdadeiro amor. São corpos marginalizados, mas corpos sagrados e
mesmo que estejam quebrados, são constantemente restaurados pela
dignidade Divina. “Deus não tem um rosto único, Ele se apresenta
na diversidade dos rostos de tantas mulheres, Ele dança nestes
corpos através da luta cotidiana e se manifesta nestes mesmos
corpos, criando e cuidando deles. A relação que as mulheres têm
com o Sagrado é uma relação de quem de fato reconhece neste Ser
Transcendente o mais profundo de si mesmas e que não as abandona
jamais. Encontra-se ao lado delas, confirmando sua identidade de
pessoa criada e amada por Ele, conferindo-lhes a dignidade que
elas jamais perderam” explica a Irmã.
Para as Irmãs Oblatas, a ferida social causada
pelo fenômeno da prostituição está longe de ser sanada. As
mulheres vítimas desta realidade são na verdade guerreiras,
lutadoras, que insistem em sobreviver, mesmo que a sociedade
queira moralmente culpá-las pelos problemas familiares, sociais e
econômicos, jamais trazendo para a discussão os homens que as
buscam para satisfazer os próprios prazeres. Mesmo assim, a
Congregação acredita na libertação de cada um desses corpos usados
e manipulados na prostituição.
Colaborou
Ângela Genova Sanches
jornalista
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